quinta-feira, 26 de maio de 2016

Dieta de Amor



Muitas vezes me pergunto se não é essa cultura de austeridade alimentar e física que adoece as pessoas. É tanto tempo dispendido no controle das calorias e com a preocupação de ingerir batata doce, linhaça, quinoa e cumprir todas as séries da academia, que falta tempo de se ocupar do que alimenta a alma. Suco de clorofila faz bem e é uma delícia, mas às vezes tudo que o coração da gente precisa é de uma generosa dose de amor e de carboidrato. E por que não?
O importante e que não pode faltar nunca na vida da gente é espaço para aqueles momentos que fazem a gente se abastecer de afeto. Com ou sem glúten... Porque a verdade é que não há receita para a beleza mais eficaz que a felicidade. E ela, a felicidade, é esse sentimento que não se contenta em fazer morada, ela tem esse jeito escandaloso, impetuoso e atrevido, essa mania de transbordar e de encher de vida e de beleza tudo à sua volta.
Porque convenhamos, não há semblante mais belo que aquele que é adornado por um sorriso sincero que brota da alma e escapa pelos olhos... E quem há de dizer que há combustível mais potente pra nos conduzir à felicidade que não o amor? Por isso, os contidos que me perdoem, mas como cada um se alimenta do que quer, eu sigo trocando uma tonelada de paz por um grama de amor (...)

Mariana Pérez.

sábado, 7 de maio de 2016

LUCAS



Pra te fazer sorrir eu faço a festa,
Banco a moleca,
Me canso à beça,
Mas brinco sem pressa.

Pra te fazer sorrir eu desço do salto,
As mangas da camisa arregaço,
Pinto o nariz de palhaço
E trago o circo ao seu encalço.

Pra te fazer sorrir, esqueço-me do tempo e do espaço
E quase perco o compasso,
Pois perco a hora sem qualquer embaraço.

Quero suas gargalhadas,
Todas elas.
Elas me alimentam.

Avivam a alma,
Confortam
E acalmam.

Pra te fazer sorrir, eu me esqueço das dores,
Abro mão de todos os outros amores,
Abstraio os temores e pinto a vida em mil cores.
Só pra te ver sorrir...

Mariana Pérez.

SOBRE A INFÂNCIA E A CASTRAÇÃO EDUCACIONAL



                Ano de 2000, Colégio X, aula de Língua Portuguesa, 4ª série (atual 5º ano), a professora (Tia R.) dá aos alunos a seguinte tarefa de classe: 
- Pessoal, em homenagem aos 500 anos do descobrimento do Brasil (pelos portugueses, ela esqueceu-se de dizer; afinal nosso país já estava aqui e tinha seus próprios habitantes) vocês vão utilizar o restante da aula para fazer um desenho sobre este tema.
Diligentemente, a aluna M. (10 anos) se pôs a fazer a “firula” exigida pela professora, desenhou uma pequena caravela e no restante do papel escreveu uns versinhos. Ao se deparar com o resultado do trabalho de M., Tia R. a repreendeu veementemente:
- M., a tarefa que lhe dei foi a de fazer um desenho em alusão aos 500 anos do Brasil.
Ao que M. responde:
- Eu entendi a tarefa, Tia R., acontece que eu desenho mal e gosto mesmo é de escrever, sabe?
Lendo com atenção todas as estrofes, Tia R. se ateve especificamente a um versinho que dizia “Quinhentos anos pelejando um povo que só quer ser feliz...”. Imediatamente ela interpela a aluna:
- Mas de onde você copiou isso?
M. então responde:
- Não copiei, Tia R., o poema é de minha autoria, eu mesma o fiz.
Inconformada, Tia R. pergunta:
- Mas onde você aprendeu o significado e a conjugação do verbo “pelejar”?
E M. mansa e prontamente explica:
- Lendo, professora. Esse ano li “Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto, por indicação da senhora, não se lembra? Mas antes disso, li nas férias um exemplar da “Odisséia” de Homero e fiquei encantada com as aventuras de Ulisses. Pois então, foi assim que eu aprendi esse verbo novo: Lendo, professora, lendo...

(sons de grilos)

Mariana Pérez.