quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Heil, Jane!



Há quem não tenha muita paciência com a passividade de Jane Bennet ou se irrite com as frivolidades de Mary, Kitty e Lydia. Mas para além do alívio cômico que se sente diante das colocações da Sra. Bennet e do deleite que nos proporciona a sagacidade de Elizabeth com a sua predileção pelos livros às fitas para enfeitar os cabelos, eu penso mesmo é que a leitura de Pride and Prejudice (Orgulho e Preconceito) é reconfortante para nós mulheres. Ao tratar de temas já tão "batidos" como a diferença de classes e o papel social da mulher, abordando a questão da objetificação de homens e mulheres por meio do casamento, Jane Austen levou a cabo a representação do casamento como aquilo que no mais das vezes ele era (e ainda é?): mero negócio jurídico não se operava por honestidade de sentimentos, mas como subterfúgio para assegurar às mulheres, tantas vezes impedidas de trabalhar, a sua subsistência, e garantir aos homens a aquisição de herdeiros. Ela questiona a falta de autonomia que se impunha às mulheres da sua geração, seja pelos ditames dos costumes, como por força do direito positivo vigente à época, que negava à mulher até mesmo o direito de herdar. É nesse sentido sentido que nós mulheres que tivemos o prazer da leitura do trabalho de Austen nos séculos XX e XXI nos sentimos reconfortadas, sabendo que já somos vistas como sujeitos de uma porção maior de direitos que outrora. E é por esses e outros tantos motivos que devemos olhar não apenas com admiração e respeito para o legado de mulheres como Austen. O sentimento maior há de ser sempre o de gratidão pela mulher corajosa que em 1813 publicou um romance que no seu primeiro parágrafo já mostra a que veio, dizendo que:

"É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro em posse de uma boa fortuna deve estar desejando uma esposa. Entretanto, por menos que se conheça os sentimentos ou o modo de pensar deste homem, quando ele chega a uma vizinhança, essa verdade está tão bem fixada nas mentes das famílias vizinhas, que ele é considerado propriedade legítima das suas filhas." (tradução nossa).

Heil, Jane!


Mariana Pérez.

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