sábado, 7 de maio de 2016

SOBRE A INFÂNCIA E A CASTRAÇÃO EDUCACIONAL



                Ano de 2000, Colégio X, aula de Língua Portuguesa, 4ª série (atual 5º ano), a professora (Tia R.) dá aos alunos a seguinte tarefa de classe: 
- Pessoal, em homenagem aos 500 anos do descobrimento do Brasil (pelos portugueses, ela esqueceu-se de dizer; afinal nosso país já estava aqui e tinha seus próprios habitantes) vocês vão utilizar o restante da aula para fazer um desenho sobre este tema.
Diligentemente, a aluna M. (10 anos) se pôs a fazer a “firula” exigida pela professora, desenhou uma pequena caravela e no restante do papel escreveu uns versinhos. Ao se deparar com o resultado do trabalho de M., Tia R. a repreendeu veementemente:
- M., a tarefa que lhe dei foi a de fazer um desenho em alusão aos 500 anos do Brasil.
Ao que M. responde:
- Eu entendi a tarefa, Tia R., acontece que eu desenho mal e gosto mesmo é de escrever, sabe?
Lendo com atenção todas as estrofes, Tia R. se ateve especificamente a um versinho que dizia “Quinhentos anos pelejando um povo que só quer ser feliz...”. Imediatamente ela interpela a aluna:
- Mas de onde você copiou isso?
M. então responde:
- Não copiei, Tia R., o poema é de minha autoria, eu mesma o fiz.
Inconformada, Tia R. pergunta:
- Mas onde você aprendeu o significado e a conjugação do verbo “pelejar”?
E M. mansa e prontamente explica:
- Lendo, professora. Esse ano li “Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto, por indicação da senhora, não se lembra? Mas antes disso, li nas férias um exemplar da “Odisséia” de Homero e fiquei encantada com as aventuras de Ulisses. Pois então, foi assim que eu aprendi esse verbo novo: Lendo, professora, lendo...

(sons de grilos)

Mariana Pérez.

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