Ano de 2000, Colégio X, aula de Língua Portuguesa,
4ª série (atual 5º ano), a professora (Tia R.) dá aos alunos a seguinte tarefa
de classe:
- Pessoal, em
homenagem aos 500 anos do descobrimento do Brasil (pelos portugueses, ela
esqueceu-se de dizer; afinal nosso país já estava aqui e tinha seus próprios
habitantes) vocês vão utilizar o restante da aula para fazer um desenho sobre
este tema.
Diligentemente,
a aluna M. (10 anos) se pôs a fazer a “firula” exigida pela professora,
desenhou uma pequena caravela e no restante do papel escreveu uns versinhos. Ao
se deparar com o resultado do trabalho de M., Tia R. a repreendeu
veementemente:
- M., a tarefa
que lhe dei foi a de fazer um desenho em alusão aos 500 anos do Brasil.
Ao que M.
responde:
- Eu entendi a
tarefa, Tia R., acontece que eu desenho mal e gosto mesmo é de escrever, sabe?
Lendo com
atenção todas as estrofes, Tia R. se ateve especificamente a um versinho que
dizia “Quinhentos anos pelejando um povo que só quer ser feliz...”.
Imediatamente ela interpela a aluna:
- Mas de onde
você copiou isso?
M. então
responde:
- Não copiei,
Tia R., o poema é de minha autoria, eu mesma o fiz.
Inconformada,
Tia R. pergunta:
- Mas onde
você aprendeu o significado e a conjugação do verbo “pelejar”?
E M. mansa e
prontamente explica:
- Lendo,
professora. Esse ano li “Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto,
por indicação da senhora, não se lembra? Mas antes disso, li nas férias um exemplar
da “Odisséia” de Homero e fiquei encantada com as aventuras de Ulisses. Pois
então, foi assim que eu aprendi esse verbo novo: Lendo, professora, lendo...
(sons de
grilos)
Mariana Pérez.
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