sábado, 7 de maio de 2016

LUCAS



Pra te fazer sorrir eu faço a festa,
Banco a moleca,
Me canso à beça,
Mas brinco sem pressa.

Pra te fazer sorrir eu desço do salto,
As mangas da camisa arregaço,
Pinto o nariz de palhaço
E trago o circo ao seu encalço.

Pra te fazer sorrir, esqueço-me do tempo e do espaço
E quase perco o compasso,
Pois perco a hora sem qualquer embaraço.

Quero suas gargalhadas,
Todas elas.
Elas me alimentam.

Avivam a alma,
Confortam
E acalmam.

Pra te fazer sorrir, eu me esqueço das dores,
Abro mão de todos os outros amores,
Abstraio os temores e pinto a vida em mil cores.
Só pra te ver sorrir...

Mariana Pérez.

SOBRE A INFÂNCIA E A CASTRAÇÃO EDUCACIONAL



                Ano de 2000, Colégio X, aula de Língua Portuguesa, 4ª série (atual 5º ano), a professora (Tia R.) dá aos alunos a seguinte tarefa de classe: 
- Pessoal, em homenagem aos 500 anos do descobrimento do Brasil (pelos portugueses, ela esqueceu-se de dizer; afinal nosso país já estava aqui e tinha seus próprios habitantes) vocês vão utilizar o restante da aula para fazer um desenho sobre este tema.
Diligentemente, a aluna M. (10 anos) se pôs a fazer a “firula” exigida pela professora, desenhou uma pequena caravela e no restante do papel escreveu uns versinhos. Ao se deparar com o resultado do trabalho de M., Tia R. a repreendeu veementemente:
- M., a tarefa que lhe dei foi a de fazer um desenho em alusão aos 500 anos do Brasil.
Ao que M. responde:
- Eu entendi a tarefa, Tia R., acontece que eu desenho mal e gosto mesmo é de escrever, sabe?
Lendo com atenção todas as estrofes, Tia R. se ateve especificamente a um versinho que dizia “Quinhentos anos pelejando um povo que só quer ser feliz...”. Imediatamente ela interpela a aluna:
- Mas de onde você copiou isso?
M. então responde:
- Não copiei, Tia R., o poema é de minha autoria, eu mesma o fiz.
Inconformada, Tia R. pergunta:
- Mas onde você aprendeu o significado e a conjugação do verbo “pelejar”?
E M. mansa e prontamente explica:
- Lendo, professora. Esse ano li “Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto, por indicação da senhora, não se lembra? Mas antes disso, li nas férias um exemplar da “Odisséia” de Homero e fiquei encantada com as aventuras de Ulisses. Pois então, foi assim que eu aprendi esse verbo novo: Lendo, professora, lendo...

(sons de grilos)

Mariana Pérez.

segunda-feira, 21 de março de 2016

PODE ENTRAR




Você que partiu, por favor, compreenda: silêncio e distância nem sempre são expressões de malquerença, às vezes é excesso de bem-querer. Mas a você que vem chegando, fica o aviso: cada pessoa que vem e depois vai embora leva consigo um pedaço da nossa alma. E chega uma hora que cansa! Então se for pra chegar, que seja pra ficar. Entre, bata a porta e perca a chave, porque eu detesto despedidas...

Mariana Pérez

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016


Se despedir às vezes é um ato tão tolo. Tem gente que nunca parte de nós ou de quem simplesmente não conseguimos partir.

Mariana Pérez.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

SER FLOR (um poema a quatro mãos)


              Eles pediram e o amor chegou.               
        Ela sorrindo desabrochou.         
Ao ver sua beleza, ele exclamou:

“Uma flor que não deforma,
Que o tempo não desgasta; que
A luz alumia a incandescente
Beleza e formosa
Natureza
Há só
Uma:
Você”.

Só que a vida aconteceu,
       Ele logo esmoreceu    
E por não gostar de flores gastas, ele então partiu.

          Mas beleza é transformar dor em doçura,         
                Fazer o azedume virar candura.              
  Ela sabe disso
 E por essa razão, vai florir de novo (...)


Mariana Pérez & J.E.P.P.B.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

PERSPECTIVA


Perspectiva é tudo! É a tal arte de conseguir enxergar um copo meio cheio quando o que todo mundo vê é um copo meio vazio. Se para uns felicidade deixou de ser estado de espírito ou objetivo de vida pra virar uma espécie de fator previdenciário do cálculo de sucesso da vida alheia (e olha que nem faz diferença que a felicidade virtual estampada nos sorrisos que as pessoas vestem e exibem, sobretudo nas redes sociais, não corresponda à realidade fática), para outros ela é uma realidade quase que palpável, construída através dos pequenos instantes que fazem a vida valer a pena. E qualquer pessoa dotada de noções elementares de matemática entende que essa ciência exata não se presta a escrutinar a alma humana, de modo que não se pode atestar com precisão a quantidade de alegria ou de tristeza que alguém carrega dentro do peito. Quem mais chorou muitas vezes foi em verdade quem mais amou. Quem sente saudades é quem também se alegra em dizer que faz parte do seleto grupo que experimentou esse nobre sentimento. Quem verte lágrimas ao rever as fotos das quais foi incapaz de se desfazer e ao reler as cartas recebidas ou mesmo as que foram escritas mas nunca enviadas é também quem guarda dentro do peito a certeza de que aquele foi um amor de verdade. Só a inventividade da arte dos poetas poderia dar conta das vivências humanas. Só eles entendem que em se tratando da vida há sim dois pesos para a mesma medida, porque de fato existem sempre dois lados ou mais de uma mesma história. É tudo uma questão de sentir. E quantas não são as formas ou perspectivas de se encarar um mesmo acontecimento? Quantas não são as variáveis a se aplicar no cálculo de ''sucesso'' do grande todo de vivências que cada um de nós experimenta ao longo da caminhada? O fato é que no sistema métrico da vida cada um adota a unidade fundamental de medida que quiser. A que eu escolhi foi o amor e a aplicação dessa unidade de medida é bem simples. É algo mais ou menos assim: Eu amei. Tu amaste? Nós amamos! Fui feliz.

Mariana Pérez.